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21 janeiro 2021
Parei de escrever 3 anos atrás

Lembro de assistir Fahrenheit 451 e ficar com vontade de escrever uma história bem Bradbury (apesar de eu não ter lido nenhum dos livros dele) sobre um grupo de hackers chapéu branco que arranjavam todo tipo de documentos e recursos falsificados para que seus clientes pudessem existir funcionalmente numa sociedade distópica onde as pessoas são divididas por classes e quão melhor fosse sua vida mais alto nos prédios você moraria. Talvez tudo seria muito mecânico e cyberpunk porque eu também havia assistido Blade Runner, ambos os filmes, e um pouquinho de Altered Carbon entre eles. Digo recentemente, mas todos esses eventos ocorreram no decorrer de mais de um ano. E entre esses eventos eu não escrevi uma única coisa que preste.

Também lembro de estar voltando para casa do trabalho um dia, descendo do ônibus num ponto que ficava bem na frente de um prédio dos bombeiros. Tinha uma placa na cerca informando que a área era restrita para funcionários. Uma cena me veio a mente de uma garota pedindo ao seu amigo que lhe levasse até uma instalação militar, sem questionar nada, e quando eles lá chegaram ela mostraria um cartão de identificação para o segurança. O segurança se desculparia e mudaria a postura como se ela fosse (muito) grande coisa. O amigo perguntaria, "Quando é que você ia me contar que é militar?" Ela responderia, "Eu não ia. E eu não sou militar." "Mas você tem algum tipo de autorização," o amigo diria, com um tom específico em sua voz. "É só isso, nada de mais. Eu tenho autorização militar. Fim da história," ela retrucaria.

"Parece mais o começo da história," o amigo comentaria, finalizado o diálogo.

Sabe, me trouxe tanta alegria inventar esse curto diálogo só de ver aquela placa na cerca. Consigo facilmente lembrar de outras vezes, indo daquele mesmo ponto de ônibus para casa, sentindo o cheiro de pimenta no ar vindo do restaurante árabe ali perto, e uma ideia invadindo minha mente. Sempre senti como se simplesmente viesse até mim. E já faz algum tempo que minhas ideias parecem ser apenas fabricadas de outras mídias que consumi. Não que elas não fossem assim antes e poderíamos sair numa tangente discutindo o quanto as coisas são realmente originais hoje em dia e o que é apenas uma cópia de uma cópia de uma cópia. Sim, eu também finalmente assisti Clube da Luta nesse tempo que não estive escrevendo. Mas não divagarei. O problema que tenho em mãos é que eu sinto falta de escrever como costumava e não sei como conseguir isso de volta. E não é a primeira vez que isso acontece, para ser sincera. Talvez eu só esteja pensando demais.

"Ela realmente pensa demais," diz o narrador no céu.

Thom Milkovic @ Unsplash

Me parece que me enrolei em lidar com coisas "da vida real" e isso fez com que os meus "creative juices" parassem de fluir (odeio essa expressão, inclusive). Mas aí, isso quer dizer que escrever não é uma coisa "da vida real" para mim? Será que sempre foi assim tão secundário? A última vez que esse tipo de bloqueio aconteceu cheguei a esse mesmo padrão de pensamento, essa pressão de criar algo... algo diferente, quase. E aí parece que a vida está no meu caminho porque escrever se torna algo que eu preciso trabalhar em cima e já estou trabalhando em várias outras coisas. Às vezes quando conto para as pessoas que escrevo, me perguntam "é mesmo? sobre o quê?". E eu fico, "é... qualquer coisa." Porque, ao mesmo tempo que é algo leve é com o meu coração inteiro, entende. Deveria ser fácil. Esse texto aqui foi fácil de escrever. Não ficou bom? Me sinto bem sobre ele. Então, é isso aí.

Vamos tentar de novo, eu acho?

Sinceramente,
Júlia P. V. Souza

Trilha Sonora