7

carregando...

25 agosto 2021
Stacy

Como eu conheci ela, você pergunta? Foi na faculdade, acho que no começo do meu terceiro ano, no meio do segundo ano dela. Aquele mês eu peguei um estágio em um dos laboratórios da administração pela manhã e a aula começava logo depois do almoço, então eu almoçava ou no refeitório principal ou no shopping logo do outro lado da rua. Não lembro que dia da semana era, só sei que eu não estava particularmente de bom humor... Ah! Devia ser quarta ou quinta-feira, dias das piores aulas. O fato é que a fila do refeitório já virava a esquina e acabei saindo do laboratório um pouco tarde demais, então fui direto para o shopping. As filas não viravam esquinas, mas encontrar uma mesa vazia — para dois, porque por algum motivo não existem mesas "para um" em praças de alimentação de shopping — não foi uma tarefa muito fácil. Mas, de toda forma, decidi comer sushi, pedi meu chá preto, andei a passos curtos até a mesa disponível mais próxima. Tantas pessoas. Até uma família inteira almoçando no shopping em pleno dia de semana. Podiam ser turistas, não fiquei analisando tanto, só observei as mesas ao redor entre mordidas. Eu realmente não estava com pressa. Uma garotinha passou do meu lado, seguindo o pai que andava alguns passos adiante, logo depois pegando-a pela mão e guiando-a por entre as mesas. Imaginei se ele não diria "olha só, filha, sempre venha acompanhada ao shopping para não almoçar triste igual aquela moça ali." Não sei porque imaginei isso nem por quê estou te contando tais detalhes, na verdade, você só precisa saber que eu estava distraída enquanto almoçava. Sozinha. No shopping.

Henri Pham @ Unsplash

"Tem alguém sentado aqui?", eu ouvi de repente. Ela apoiava uma mão na cadeira de metal do outro lado da mesa e equilibrava uma bandeja do quiosque de sanduíches orgânicos na outra. "Não," respondi como quem entende que ela precisava da cadeira, e voltei a prestar atenção no meu próprio prato. "Posso sentar, então?", ela perguntou, praticamente sem perguntar, já acomodando sua bandeja na mesa. Lembro de encará-la enquanto ela se acomodava e desembrulhava o sanduíche, com um refrigerante acompanhando. "O refeitório tá impossível hoje, não é", ela comentou, se apresentando logo após. "Me chamo Stacy. Gostei do seu cabelo."

Meu primeiro pensamento foi tentar entender se eu já a havia visto em algum lugar ou se minha mente estava me enganando. Ela parecia familiar, talvez porque ela também parecia ser popular, por mais que eu não saiba exatamente o que faz uma pessoa parecer popular. Essa sequência de pensamentos fez com que eu me sentisse como se tivesse voltado para o colégio. Segurando meu copo de chá, olhei bem para ela ao passo que ela sorria um sorriso simpático, com os lábios apertados, sem mostrar dentes. "Obrigada. Eu sou AJ. Gostei dos seus brincos. Não faz sentido comer esse sanduíche com um refrigerante acompanhando, sabe?"

Ela riu e concordou, colocando os cabelos atrás das orelhas para mostrar melhor seus brincos enquanto eu amarrava meu cabelo num rabo-de-cavalo alto e solto antes de voltar para o sushi. Foi assim que conheci ela, numa mesa para dois na praça de alimentação do shopping. Ela nunca se tornou minha melhor amiga, mas ela é certamente a melhor de todas as minhas amigas. Só não me pergunte como continuamos juntas até hoje, porque acredito que nenhuma de nós sabe realmente como responder isso.


Esse monólogo era originalmente sobre um casal.
Mas agora é sobre duas boas amigas. *pisca*
Duas melhores amigas em um quarto, sabe?
Tá bom, parei.

Sinceramente,
Júlia P. V. Souza

Trilha Sonora