— Sonhei com gatinhos. Isso não é bom.
— Como assim?
— Agora eu quero um gatinho.
— Não podemos ter um gatinho.
— Nós poderíamos ter um gatinho.
— Estou dizendo que não podemos. Gatinhos não gostam de mim. Aliás, gatinhos não gostam de você.
— É claro que gostam de mim, o que há para não gostar?
— Nosso síndico não permite animais, você sabe disso.
— Por que é que moramos nesse prédio, afinal?
— Não me venha com essa, por favor.
— Podíamos ter um furão.
— Um furão não é um gatinho.
— Tem razão.
— Nós podíamos realmente ter um cachorrinho.
— O síndico não gosta de animais no prédio.
— Nós dois gostamos de cachorrinhos, e cachorrinhos gostam de nós dois.
— Como é que vamos esconder um cachorrinho do síndico? Quando sairmos de tarde e ele ficar chorando por aí?
— Você não pensou nisso com o gatinho?
— ...Na verdade, não. Olha, é Dia dos Namorados.

Ela encarava o calendário na parede.
— Você só percebeu agora?
— Como se nós ligássemos para o Dia dos Namorados.
— Não me coloque junto com você.
Ele entrega à ela um presente embrulhado em papel azul.
— Você me comprou um presente de Dia dos Namorados?
— Bom, eu pensei, já que nenhum de nós tem namorado...
— Já que estamos os dois encalhados, você quer dizer. Mas nossa, eu nem te comprei nada.
— Então qual é a da super caneta personalizada que eu achei na mesinha de cabeceira?
— Ah, aquilo? De nada.
— Idiota. Estou indo.
— Até mais.
Ele sai. Ela abre o presente e logo após envia-lhe mensagens de texto.
"Hei, você me deu um gatinho de pelúcia!"
"Isso é muito fofo de sua parte, e admiravelmente telepático, aliás."
"Amo você, caso você esteja se perguntando."
"Eu sei. Idiota."