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14 fevereiro 2021
Gunpowder Valentine

Sonhei com gatinhos. Isso não é bom.

— Como assim?

Agora eu quero um gatinho.

— Não podemos ter um gatinho.

Nós poderíamos ter um gatinho.

— Estou dizendo que não podemos. Gatinhos não gostam de mim. Aliás, gatinhos não gostam de você.

É claro que gostam de mim, o que há para não gostar?

— Nosso síndico não permite animais, você sabe disso.

Por que é que moramos nesse prédio, afinal?

— Não me venha com essa, por favor.

Podíamos ter um furão.

— Um furão não é um gatinho.

Tem razão.

— Nós podíamos realmente ter um cachorrinho.

O síndico não gosta de animais no prédio.

— Nós dois gostamos de cachorrinhos, e cachorrinhos gostam de nós dois.

Como é que vamos esconder um cachorrinho do síndico? Quando sairmos de tarde e ele ficar chorando por aí?

— Você não pensou nisso com o gatinho?

...Na verdade, não. Olha, é Dia dos Namorados.

Mikhail Vasilyev @ Unsplash

Ela encarava o calendário na parede.

— Você só percebeu agora?

Como se nós ligássemos para o Dia dos Namorados.

— Não me coloque junto com você.

Ele entrega à ela um presente embrulhado em papel azul.

Você me comprou um presente de Dia dos Namorados?

— Bom, eu pensei, já que nenhum de nós tem namorado...

Já que estamos os dois encalhados, você quer dizer. Mas nossa, eu nem te comprei nada.

— Então qual é a da super caneta personalizada que eu achei na mesinha de cabeceira?

Ah, aquilo? De nada.

— Idiota. Estou indo.

Até mais.

Ele sai. Ela abre o presente e logo após envia-lhe mensagens de texto.

"Hei, você me deu um gatinho de pelúcia!"

"Isso é muito fofo de sua parte, e admiravelmente telepático, aliás."

"Amo você, caso você esteja se perguntando."

"Eu sei. Idiota."

Sinceramente,
Júlia P. V. Souza

Trilha Sonora