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08 março 2021
Segredos

"Me reservo ao direito de não te contar", ela digitou para ele na conversa instântanea. Adorava digitar frases bonitas e pomposas. Mas ela adorava isso quando era só ela quem lia. Apagou tudo e digitou: "é segredo." É evidente que ele quis saber o que era e tudo o mais. É evidente que ela prosseguiu a conversa sem contar.

É evidente, mas só para ela, que o segredo tinha tudo a ver com ele. Felizmente, ele não percebeu. Infelizmente, ela não conseguia reunir coragem para contar à ele. Talvez o que ela precisasse não fosse coragem, e sim um pequenina certeza de que ele se sentisse como ela se sentia por ele. Queria um dia poder dizer tudo. Queria explicar como ela se sentia melhor quando falava com ele, como ele sempre fazia ela acreditar que ele ia cuidar dela quando ela precisasse. Odiava aquilo. Odiava o jeitinho "amigo" dele. Queria que ele esquecesse de ser amigo dela, mesmo que só por um dia, e chamasse ela para sair. Levasse ela no cinema. Fosse na casa dela. Ou então que ele lembrasse de uma festa e dissesse que queria levar ela com ele. Queria que ele se sentasse do lado dela numa excursão do colégio, e passasse o dia todo só com ela. Queria o abraço dele, só para ela. Queria o beijo dele, só para ela.

Queria ser dele. Queria que ele fosse dela.

Queria tanto, que todas as noites imaginava-se dormindo enrolada nos braços dele. Tudo que ela tinha era a própria imaginação para confortar-se. Até o dia que ela pudesse reunir a coragem à pequenina certeza de um sentimento recíproco, e finalmente dizer à ele. A última coisa que ela queria, era ser capaz de dizer com todas as palavras pomposas e bonitas que ela tinha imaginado. "Sendo ele, irá gostar," pensava ela. Tentando novamente fugir do assunto, ela perguntou o que ele tinha pensado em fazer no dia.

Do outro lado da conversa instântanea, ele digitou: "nada, mas eu pensei em ir até a sua casa sem avisar e passar o dia inteiro com você. Te diria que você é a garota mais linda que eu já vi, e que tudo que eu mais quero é te beijar, te abraçar, te fazer carinho até você dormir nos meus braços." Adorava digitar frases compridas e detalhadas. Mas adorava isso quando era só ele quem lia. Apagou tudo e digitou: "não sei ainda."

Kajetan Sumila @ Unsplash


Originalmente escrito lá em 2010 pela Júlia de 16 anos que não sabia nada da vida e acabava dando voltas nas mesmas ideias clichê sobre o que é ser romântico. Não acho este um bom texto, de jeito nenhum. Confio que já escrevi muito melhor, mas é daquelas coisas que a gente guarda pra vida, sabe? E de certa forma acho fofo, até hoje.

Também parece que mudei entre escrever várias frases curtas com muitos pontos finais para escrever frases bem longas sem pausas ou vírgulas. Não sei qual é melhor, gosto dos dois. Reflexões.

Sinceramente,
Júlia P. V. Souza

Trilha Sonora