Ele entrou no quarto encontrando-a deitada na cama, assistindo um filme em seu notebook.
— Hei.
— Yo — ela respondeu sem tirar os olhos de tela.
— Noite de filmes improvisada? — ele perguntou, esperando que isso causasse algum efeito nela. Ela pausou o filme e esticou os braços.
— Nah, só noite de tédio, eu acho.
— Posso te acompanhar?
Ele provavelmente esperava que ela dissesse "fique à vontade", e a falta dessa resposta fez ele imaginar se ela estava realmente bem. Ela levantou o cobertor e fez espaço para que ele deitasse ao lado dela. Tirando a jaqueta e deixando-a na cadeira, ele chutou os tênis dos pés e deitou-se colocando seu braço sobre a cintura dela, apertando play.
— Você não devia estar num encontro ou algo assim? — ele perguntou.
— Eu devia?
— Não me diga que ele te deu um bolo.
— Não tinha encontro algum para começo de história. Eu lavo as mãos.
Agora foi a vez dele pausar o filme. Ela encarou-o pelo canto do olho.
— Mas já?
— Não estou com humor para correr atrás de um cara, nesse ponto da vida, sabe — ela soava tristemente séria.
— Você nunca teve que correr atrás de alguém antes, o que mudou?
— É complicado.
— Adoro o fato de que você é complicada.
— Cala boca.
Ela tentou sufocá-lo com um travesseiro, mas acabou rindo de tudo. Abraçando o travesseiro, ela virou-se para o notebook e apertou play mais uma vez. Abraçando ela, ele virou-se para o notebook e começou a prestar atenção no filme, assistindo por cima do ombro dela.

— É ele que sai perdendo, na verdade - ele decidiu comentar.
— Oh, é ele mesmo que perde.
— O que você estaria perdendo? Talvez há mais sobre ele do que o que você sabe agora.
— Posso estar perdendo a chance de descobrir... Mas eu vou superar essa sensação de perda, eventualmente.
— Você sempre consegue fazer isso.
— Outra coisa que você adora? - ela sorriu.
— Arrã — ele sorriu também.
Ela podia ouvir ele respirando perto do rosto dela, e por um segundo ela se perguntou se não devia ter reclamado do fato dele ter simplesmente se aninhado com ela, sob condições normais. Talvez fosse isso que ela precisasse, já que ela não estava sob condições normais, por mais que ela rezasse para que ele não percebesse. Mas ele percebeu.
— Sobre o que é esse filme afinal? Você está afundando em mágoas assistindo alguma comédia romântica bem clichê?
— Claro que não, não seja tão idiota — ela riu um pouco.
Era tudo que ele queria.
— Ora vamos, é isso que você adora sobre mim, certo?
Ela concordou, virando o rosto um pouco na direção dele. Ele sorriu um sorriso grande.
Era tudo que ela queria.